sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Só uma perguntinha para quem acredita no "sono da alma"

    É sabido no meio teológico que tem aqueles que acreditam que após a morte o ser humano entra em um estado de inconsciência até a ressurreição, um período durante o qual a alma "dorme"...a alma fica em um estado de inatividade, uma espécie de ato de dormir...

    Para quem interpreta a escatologia desta forma eu gostaria de fazer apenas uma pergunta: vocês também crêem em "alma sonâmbula?

    Pois em Apocalipse  6:9 e 10 é dito: "Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?"

    Será que eles estavam clamando de forma inconsciente e sonambulística?

    Também em Lucas 16:19-31 temos uma situação em que Abraão dialoga com um rico: "Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico e foi sepultado. No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão..." É uma situação em que tanto Abraão quanto Lázaro e também o rico estão lúcidos...ou não? Seria um sonambulismo coletivo, ou um sonho lúcido coletivo e interativo?

    Só para completar temos a situação do monte da transfiguração em Mateus 17:3: "E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele.", ok, tudo bem, Elias não morreu, mas e Moisés? seria mais um ativo sanâmbulo? Ou, talvez sejo por isso que Pedro sugeriu as tendas, para que a alma sonâmbula do Grande Legislador pudesse repousar melhor... 

    Um dos argumentos de tais intérpretes é que seria um pouco injusto da parte de Deus que as almas dos que já se foram desfrutem um "X" a mais da presença de Deus do que outros...mas, o estrago já está feito, pois Enoque e Elias subiram para estar com Deus, pois Deus os tomou para Si. A não ser que, assim que chegaram vivos lá em cima Deus os tenha posto para dormir com os demais.

Por quem Cristo morreu?

Por que se pela ofensa de um (Adão) todos os seus descendentes nascem pecadores, mas o sacrificio de Cristo não salva a todos automaticamente? (texto referência Romanos 5:18,19)

Será que é assim? Ou salva?

🤔

Vamos por partes:

Primeiro ponto: existe pecado e pecadoS.

O pecado é a RAIZ, a origem, é a natureza pecaminosa, é o que a Bíblia chama negativamente de carne (sarx, no grego).

Os pecadoS são os FRUTOS, as consequências da natureza pecaminosa, é o que a Bíblia chama negativamente de obras (Gálatas 5:19a, Apocalipse 20:12c).

Adão foi advertido para não comer daquele fruto, senão, morrendo ele morreria (cf o original hebraico traduzido "certamente morrerás). Quando ele desobedeceu e comeu, um "veneno" entrou em seu corpo e ele começou a morrer (é o "morrendo"). essa é a morte FÍSICA, consequência do PECADO. Na sequência, essa natureza pecaminosa (PECADO) já começou a se manifestar em ações (PECADOS), quando, por exemplo, Adão acusou Deus de ser o responsável pelo desastre ("a mulher que me deste por esposa"...)

A Hamartiologia (estudo da doutrina do pecado) é uma doutrina extensa nas Escrituras e, quando a estudamos mais detidamente, a conclusão que se chega é que o resultado do PECADO é a morte física ("o salário do pecado é a morte") e o resultado dos PECADOS é a separação eterna no lago ("os vossos pecadoS fazem separação entre Mim e vós"), também chamada de segunda morte (Apocalipse 20:14).

A obra expiatória de Jesus Cristo possui dois aspectos para atender a essas duas necessidades, aspectos que foram tipificados através de inúmeros sacrifícios tipológicos e também em Levítico 16:7-10 (é bom ler o capítulo 26 todo...) por dois bodes: um que era morto e o sangue apresentado no Santo dos Santos (pelo pecado da nação) e outro, sobre cuja cabeça o Sumo Sacerdote confessava os pecadoS da nação e ele era levado para o deserto, para ser afastado, abandonado, separado...

Agora sim, podemos responder a pergunta inicial:

O sacrifício de Cristo SALVA AUTOMATICAMENTE todos os descendentes de Adão de seu PECADO! ***

[***Que a expiação de Cristo na cruz foi ILIMITADA (para todos os descendentes de Adão) pode ser visto, por exemplo, em João 12:32, 1 Timóteo 2:6, 4:10, Tito 2:11, Hebreus 2:9]

Pois da mesma forma involuntária (sem participação ativa da minha volição em particular) que herdo de Adão a natureza pecaminosa, igualmente a humanidade é salva/perdoada por possui-la.

"Eis o Cordeiro de Deus, que tira O PECADO do mundo!" (João 1:29) 

A questão é que existem também OS PECADOS...

São esses que acarretam a separação eterna e, cuja solução se dá unicamente pela escolha pessoal de Jesus Cristo como Advogado e Salvador particular, por meio da admissão de ser praticante de pecadoS e da decisão de não querer mais ser praticante voluntário deles (mudança de atitude - arrependimento).

Para que o perdão dos pecadoS se torne EFETIVO é necessária APROPRIAÇÃO PESSOAL.

Na Soteriologia (estudo da salvação) isso é chamado JUSTIFICAÇÃO, recebemos a justiça de Cristo, e nos tornamos "santos, inculpaveis, irrepreensíveis" e podemos estar na presença de Deus (Romanos 5:1, Apocalipse 22:14).

Cristo, na cruz, sofreu as duas mortes; a física (quando gritou: Tudo está completamente pago! - TETELESTAI!) e a espiritual (quando ficou longe separado, afastado, isolado da presença do Pai, por três horas e chorou: "Deus meu, Deus meu, porque me abandonastes").

A neutralização da morte física se dá por meio da ressurreição física. É, por isso, que TODOS OS HOMENS serão ressuscitados. É um desdobramento da quitação total da dívida de PECADO de todos.

É por isso também que crianças, quando morrem, vão para a presença de Deus*, pois o seu PECADO está pago, assim como o de TODOS os homens...e não tiveram ainda oportunidade de manifestarem essa natureza pecaminosa na forma de PECADOS (o que as afastariam eternamente de Deus), não têem o que confessar ou o de que se arrepender...

[*Davi expressou essa compreensão quando disse de seu filho de 7 dias de idade que acabara de morrer: "Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim." 2 Samuel 12:23 - ou a criança estava condenada e Davi também iria para a condenação aonde ela estava, ou, o contrário, ambos um dia estariam juntos na presença de Deus, e particularmente não creio que Davi tenha se perdido...]

Agora cumpre a cada um de nós tomar ou não essa decisão.

Uma Testemunha da Redenção na Natureza

Mas eu sou verme e não homem.   Salmos 22:6a

    O Salmo 22 é frequentemente chamado de "Salmo da Crucificação" ou "O Salmo da Cruz" e é claramente um salmo messiânico dando uma detalhada descrição profética da crucificação de nosso Senhor quase 1000 anos antes do evento real. Spurgeon escreve: "Para expressões melancólicas, insurreição de profundezas inexprimíveis podemos dizer deste salmo", não há ninguém como ele. "É a fotografia das horas mais tristes do nosso Senhor, o registro de suas palavras agonizantes, o lacrimogêneo (recipientes utilizados em Tumbas romanas para coletar lágrimas funerárias) de Suas últimas lágrimas, o memorial de suas alegrias expirando. No Salmo 22 , temos uma descrição da escuridão pela qual Jesus passou.

    No versículo 6, encontramos uma descrição muito incomum do Messias: "Eu sou um verme e não um homem". Embora não haja registro de Cristo proferindo estas palavras na cruz, há pouca dúvida de que essas palavras estavam no coração de nosso Senhor. Ele se sentiu comparável a um VERME impotente, oprimido e passivo, enquanto "esmagado por nossas iniqüidades" (Isaías 53:5), e despercebido e desprezado por aqueles que o pisaram. "Ele foi desprezado e abandonado dos homens, um homem de dores e familiarizado com a dor; e como alguém de quem os homens escondem a face. Ele era desprezado (desdenhado, desprezado), e não o estimamos (literalmente: nós o estimamos como nada)". (Isaías 53:3)

    Essa era uma verdadeira semelhança de Si mesmo quando Seu corpo e alma se tornaram uma massa de miséria - a própria essência da agonia - nas dores agonizantes da Crucificação. O homem por natureza é apenas um verme (Jó 25:6, Isaías 41:14); mas nosso Senhor Jesus se coloca mesmo abaixo do homem (Filipenses 2:7-8), por causa do escárnio que foi acumulado sobre Ele e da fraqueza que Ele sentiu, e por isso Ele acrescenta: "e não um homem!" 

    Existe um PEQUENO VERME VERMELHO no Oriente que parece ser nada além de SANGUE quando é esmagado, parece que tudo se foi, exceto uma mancha de sangue; e o Salvador, na profunda humilhação de Seu espírito, Se compara a Si mesmo. para aquele vermezinho vermelho, como é verdade que "Ele não se fez de nenhuma reputação" (Filipense 2:7,8) por amor de nós! Ele se esvaziou de toda a Sua glória, e se houvesse alguma glória natural à masculinidade, Ele se esvaziou dela também. Não apenas as glórias de Sua divindade, mas as honras de Sua humanidade!!!

    A palavra hebraica para verme é TOLA, que a maioria dos estudiosos associa a um verme de cor carmesin (Coccus Ilicis) que nos tempos antigos era esmagado para obter um corante vermelho sangue (hebraico para "escarlate" é a mesma palavra TOLA), o corante era usado para adornar as dez cortinas do Tabernáculo (Êxodo 26:1), a tela para a porta do Tabernáculo (Êxodo 26:36), a véu que separa o Santo Lugar do Santo dos Santos (Êxodo 26:31, clamando de Jesus em alta voz, entregou o seu Espírito e o véu do templo foi rasgado de alto a baixo, abrindo "um novo e vivo caminho que Ele nos inaugurou através do véu, isto é, Sua carne [rasgada] "- Mateus 27:50-51, Hebreus 10:19-20) e as belas vestes do sumo sacerdote (Êxodo 28: 5-6). De fato, quão profundo é o mistério desses usos do VT de TOLA que retratam um verme no Salmo 22:6.e em outras 33 passagens do AT (a maioria em Êxodo) retratando o material vermelho-sangue que prefigurava o Messias, até mesmo a Sua obra de redenção na cruz!

    E assim, não deveria nos surpreender ao ver o Espírito usar a palavra hebraica TOLA para retratar nosso PECADO! Em Isaías 1:18, Deus faz o convite universal: "Venha agora, e raciocinemos juntos. Ainda que seus pecados sejam tão escarlates, eles serão tão brancos quanto a neve. Ainda que sejam vermelhos como CARMESIN (hebraico = TOLA!),eles serão brancos como a lã." Em uma demonstração da maravilhosa e misteriosa graça de Deus, o Espírito escolheu a mesma palavra hebraica (TOLA) para representar o MESSIAS e PECADO! Na verdade, Paulo explica esse mistério profundo, escrevendo que o Pai "fez Aquele que não conheceu pecado ser pecado em nosso favor, para que nos tornássemos a justiça de Deus nEle". (2 Coríntios 5:21 - Quando Cristo foi esmagado pelo peso de nossos pecados, como um verme carmesim esmagado (TOLA), Ele derramou Seu sangue, para que nossos pecados pudessem ser cobertos por Seu fluxo carmesim e nós poderíamos estar para sempre vestidos com as "vestes de salvação, envoltas em Cristo", com o seu manto de justiça. (Isaías 61:10)

UAU! Que preço! Que amor!

Eu nunca saberei o preço dos meus pecados lá na cruz!!!

Que disposição em nos resgatar a ponto de ir tão longe! Tão fundo!

"como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?" - Hebreus 2:3a




sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Jesus Cristo como personagem protagonista no Velho Testamento

    Este fato é facilmente comprovável tomando alguns exemplos de teofanias nas quais a identidade Daquele que é visto é estabelecida para nós no Novo Testamento.

    O estabelecimento de identidade não apresenta problemas em tais casos.

    Por exemplo, Isaías nos diz que ele teve uma visão do Senhor (Isaías 6:1 e seguintes) e que recebeu uma comissão para ir e falar com o povo de Israel, embora eles se recusassem a ouvi-lo. Em João 12:27 e seguintes, esse incidente é mencionado novamente. Um paralelo próximo é traçado entre a situação de Isaías e a experiência dos discípulos que também tiveram uma visão de seu Senhor e, contudo, descobriram, para sua surpresa, que Israel ainda se recusava a ouvir o que eles tinham a dizer. João aponta como semelhante a situação foi, e faz a observação de que era realmente a mesma figura divina dando a mesma comissão a seus mensageiros com o mesmo resultado previsivelmente infrutífero - em ambos os casos. Então ele diz: "Estas coisas disse Isaías quando ele viu a sua glória e falou dEle." Aquele que Isaías viu era o mesmo Senhor. O Senhor de Isaías e o Senhor dos discípulos era Uma e a mesma Pessoa!

     Através dos Salmos, a obra da criação é atribuída a Jeová, e em João 1:3 e Colossenses 1:15,16, a obra da criação é atribuída ao Senhor Jesus. Em Hebreus 1:7-13, encontramos um grande número dessas passagens dos Salmos reunidas e identificadas claramente com o Senhor Jesus, O divino Filho de Deus, que percorreu as páginas da história durante trinta e três anos e meio. Este homem, nascido de uma mãe virgem, não era outro senão Jeová que lançou os alicerces da terra e formou os céus!

     Muitas passagens no Antigo Testamento que supomos serem referência ao Pai são realmente referências ao Filho. Assim, Êxodo 17:2 e 7 registra como os filhos de Israel tentaram o Senhor: e 1 Coríntios 10:9 nos diz que esse Senhor era Jesus Cristo. Em Malaquias 3:1 Aquele que se chama o Senhor dos Exércitos diz: "Eu enviarei o meu mensageiro e ele preparará o caminho diante de mim." Em Mateus 3:3, Marcos 1:3 e Lucas 3:4 a identidade deste mensageiro como João Batista está claramente estabelecida. O ME de Malaquias 3:1 deve, portanto, ser o Senhor Jesus, o Senhor dos Exércitos do Antigo Testamento!

     Em Zacarias 12:10, lemos: "E eu derramarei sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém o Espírito de graça e súplicas: e eles devem olhar para mim A Quem eles trespassaram." É importante notar a redação aqui, já que João 19:37 cita esta passagem de forma ligeiramente diferente, convertendo a palavra ME para ELE. Meom em Zacarias 12:10 representa corretamente o hebraico original. Como o orador é o Senhor, Jeová - de acordo com Zacarias 12:4, 7 e 8 - o EU que deve ser perfurado também deve ser Jeová.


O imenso significado de coisas minúsculas

    É apropriado que Romanos 8:3 declare de maneira muito específica que Deus enviou seu Filho somente "à semelhança da carne pecaminosa", mas não de fato na carne do pecado que é nossa herança maldita desde a queda. O grego é inequívoco, diz: 'en homoiomati sarkos hamartias'. A palavra crucial aqui é homoiomati, que significa muito precisamente "semelhante a" mas não "idêntico a". A primeira parte desta palavra é homoi que deve ser mais cuidadosamente distinguida de homo.

    A diferença reside apenas na letra i (iota em grego) que embora aparentemente leve, faz toda a diferença do mundo.

    Estudantes da História da Igreja reconhecerão a importância da distinção entre as palavras homo-ousias (da mesma substância) e homoi-ousias (de substância semelhante) na formulação do Credo de Nicene (325 a 374AD). A Igreja Oriental favoreceu a visão de que o Senhor Jesus era apenas de substância semelhante com o Pai, enquanto a Igreja Ocidental mantinha a opinião de que Ele era da mesma substância ("de uma substância") com o Pai. O resultado foi uma ruptura final entre os ramos oriental e ocidental da Igreja, que permanece oficialmente até hoje. Essa divisão fundamental era mais do que uma diferença entre homo e homoi.

    No entanto, esse IOTA foi crucial para a preservação da fé cristã!

    É interessante que o Senhor tenha dito "nem um jota (o iota grego)...passará da lei até que tudo seja cumprido" (Mateus 5:18).


A costela de Adão

    Virtualmente todas as nossas traduções para o português da palavra hebraica original (tsela'), a traduzem por costela. A versão judaica do Targum de Jerusalém por membros da famosa família Ibn Tibbon (dos séculos XII e XIII, AD), e a versão de Maimonides, traduz esta palavra como lateral em vez de costela. (Tibbon: veja Robert Tuck, A Era dos Grandes Patriarcas, London, Sunday School Union, sem data, p.102.)

     Isso não é surpreendente, uma vez que os tradutores da Septuaginta empregaram a palavra grega pleuran que, se quisermos ser guiados pelo uso do Novo Testamento tem apenas o significado de ’lado’ (aparece em João 19:34; 20:20,25,27 e Atos 12:7). É importante notar que este é o significado ligado a ele no grego do Novo Testamento. Desde que o Novo Testamento repousa fortemente para o uso de palavras gregas sobre o que já foi adotado pela Septuaginta, deve-se supor que o uso de da pleura para tsela indica como eles também entenderam a palavra: isto é, como lado em vez de costela.

     Além disso, a palavra hebraica tsela' só é traduzida costela neste único versículo de Gênesis. Suas representações em outros lugares, são as seguintes: viga, câmara (duas vezes), prancha, canto (duas vezes), câmara lateral (9 vezes) e lateral (19 vezes). A tradução ’lado de’ aparece principalmente em conexão com detalhes descritivos do tabernáculo em Êxodo 25:12,14; 26:27,35; 27:7; 36:25,31,32; 37:3; 38:7; e também em 2 Samuel 16:13 e Jó 18:12. Estas são todas as ocorrências nas quais a palavra aparece. Em alguns deles é assim traduzido duas vezes em um único verso. Na Vulgata Latina é apresentado lado; como também é na versão siríaca. É, portanto ainda mais surpreendente que tão poucas versões modernas o tenham adotado em Gênesis.


Qual foi afinal o fruto proibido?

 Temos várias identificações tradicionais da árvore do FRUTO PROIBIDO:

    Os registros cuneiformes falam disso como uma planta Cassia ou uma fruta Asnan. O Livro de Enoque fala disso como uma alfarrobeira.* O Talmud favorece a videira.

    Há, é claro, a famosa maçã, que alguns estudiosos acreditam ter surgido de um erro de tradução. Acontece que em latim a palavra para "uma coisa má" e a palavra para maçã são as mesmas, malum. A árvore do bem e do mal em qualquer composição latina pode ter sido representada por alguém como uma boa macieira.

* [A alfarrobeira (Ceratonia siliqua), também conhecida como Pão-de-João ou Pão-de-São-João, figueira-de-pitágoras e figueira-do-egipto, é uma árvore de folha perene, originária da região mediterrânica que atinge cerca de 10 a 20 m de altura, cujo fruto é a alfarroba (do hebraico antigo charuv (חרוב), a semente, pelo árabe al karrub, a vagem, corruptela daquele outro termo).

     A palavra vem do francês médio carobe, que foi tomada a partir de árabe خروب (kharrūb, "vagem de alfarroba"), que deriva de idioma acadiano kharubu. Ceratonia siliqua, o nome científico da alfarrobeira, deriva do grego kerátiοn (κεράτιον), "fruto da alfarrobeira" (de keras [κέρας] "chifre"), e Latim siliqua "semente de alfarroba." O termo quilate, a unidade de peso usada para metais e pedras preciosas, também é derivado da palavra grega kerátiοn (κεράτιον), aludindo a uma antiga prática comum no Oriente Médio, de pesar ouro e pedras preciosas com as sementes da árvore de alfarroba.

     É provavelmente também mencionado no Novo Testamento, em Mateus 3:4, ao informar que João Batista (daí o termo Pão-de-São-João) subsistiu com "gafanhotos e mel silvestre"; a palavra grega traduzida como "gafanhotos" pode se referir ao fruto da alfarroba, ao invés do inseto gafanhoto. Isto é sugerido porque os termos hebraicos para "gafanhotos" (hagavim) e "alfarrobeiras" (haruvim) são muito similares.

     Novamente, em Lucas 15:16, na Parábola do Filho Pródigo, quando o Filho Pródigo está no campo da pobreza espiritual e social, ele deseja comer as vagens que ele está alimentando aos porcos, pois ele está sofrendo de inanição. O uso da alfarroba durante uma fome é provavelmente um resultado da resistência da alfarrobeira ao clima rigoroso e à seca. Durante um período de fome, aos porcos eram dadas alfarroba para que não fosse um fardo para os limitados recursos do agricultor.

     Subsiste menção da alfarroba no Talmud Berakhot relatórios de Rabi Haninah. O Talmude judeu apresenta uma parábola de altruísmo, vulgarmente conhecido como "Honi e a árvore de Alfarroba", que menciona que uma alfarrobeira leva 70 anos para dar frutos; o que significa que o plantador não irá beneficiar de seu trabalho, mas funciona no interesse das gerações futuras. Na realidade, a idade de frutificação de alfarrobeiras varia.

     O uso da planta alfarrobeira remonta a cultura da Mesopotâmia (atual Iraque). As vagens de alfarroba foram usadas para fazer sucos, doces, e foram muito apreciadas devido a seus muitos usos. A alfarrobeira é mencionado com frequência nos textos que datam de milhares de anos, destacando o seu crescimento e cultivo no Oriente Médio e Norte da África. A alfarrobeira é mencionado com reverência em "A Epopéia de Gilgamesh", uma das primeiras obras de literatura de existência.

     Existem indícios de que os romanos mastigavam as suas vagens secas, muito apreciadas pelo seu sabor adocicado. Na época romana tardia, a moeda de ouro puro conhecido como o solidus pesava 24 sementes quilates (cerca de 4,5 gramas). Como resultado, o Quilate também se tornou uma medida de pureza para o ouro. Assim, de 24 quilates de ouro significa 100% puro, 12 quilates de ouro significa a liga contém 50% de ouro, etc. O sistema acabou padronizado, e um quilate foi fixada em 0,2 gramas.]

     Há uma outra tradição à qual François Lenormant refere-se:

     "O nome mais antigo de Babilônia no idioma dos primeiros colonos naquela região era "o lugar da Árvore da Vida", e até mesmo nos caixões de argila esmaltada de uma data posterior a Alexandre, o Grande, encontrada em Warka (a antiga Erech da Bíblia e o Uruk das inscrições) esta árvore aparece como o emblema da imortalidade. É estranho dizer que uma foto dela em uma antiga relíquia assíria foi encontrada com precisão suficiente para nos permitir reconhecê-la como a planta conhecida como a Árvore Soma pelos arianos da índia, e a Horna dos antigos persas, os esmagados ramos de que produzem um suco oferecido como uma libação aos deuses como a água da imortalidade." (Lenormant, François, The Beginnings of History, Nova York, Scribners, 1891, pp. 85-86.)

     Pode-se argumentar que temos aqui melhores evidências para apoiar uma teoria de que era a Árvore da Vida que era uma videira e não a Árvore do Conhecimento. Mas eu acho que Satanás tinha algo a ver com essa confusão na tradição, mesmo que ele tivesse muito a ver com a confusão na mente de Eva. Se estamos lidando com uma fruta capaz de fermentar, não é de surpreender que os insights proféticos aparentemente exaltados que têm sido reivindicados pelos  acerdotes sob a influência do álcool possam em breve transformar algo que era na verdade um veneno em uma ambrosia dos deuses.

    A Soma ou árvore de Horna é geralmente considerado como sendo o Asclepias acida uma árvore associada nos hinos védicos com o deus Soma, assim como a fruta Asnan pode ter sido associada à deusa Ashnan. Era importante na cerimônia védica, nas palavras de uma enciclopédia, "por causa de seu caráter alcoólico". Em um hino, diz-se que aqueles que beberam o suco da planta exclamaram juntos:

     "Bebemos o soma: nos tornamos imortais: entramos na luz: conhecemos os deuses!" Tal sequência nos lembra das garantias dadas por Satanás quando ele tentou Eva a tomar o fruto proibido.

     O Dr. Gordon R. Wasson, em um artigo interessante sobre drogas psicoativas, fala dos indo-arianos e do Soma da seguinte forma: (136)

      "Um povo indo-europeu que se chama arianos conquistou o Vale do Indo em meados do segundo milênio aC Seus sacerdotes deificaram uma planta que eles chamavam de Soma, que nunca foi identificada: os acadêmicos quase se desesperaram em encontrá-lo. Os hinos que esses sacerdotes compuseram chegaram até nós como o Rig Veda, e muitos deles se preocupam com Soma. Essa planta, Soma, era um alucinógeno. O suco foi extraído dele no decorrer da liturgia e, imediatamente, bebido pelos sacerdotes que o consideravam um inebriante divino. Não poderia ter sido alcoólatra por várias razões: por um lado, a fermentação é um processo lento que os sacerdotes védicos não podiam se apressar."

     Como veremos, a última observação de Wasson não é inteiramente justificada, pois existem extratos de frutas que fermentam em poucas horas em climas quentes. É de se perguntar se tais sucos de frutas não foram originalmente bebidos simplesmente porque eram doces e agradáveis ao paladar, e que seu caráter inebriante após a fermentação foi uma descoberta acidental. Os efeitos indesejáveis da intoxicação podem ter sido uma surpresa em vista da inofensividade e doçura originais do extrato. Pode ser que essa circunstância tenha sido responsável pela crença de algumas pessoas de que essa era realmente a obra do diabo, transformando doçura em amargura e corrompendo o gosto do homem. Em algumas partes do mundo, acredita-se especificamente que foram os espíritos malignos que persuadiram o homem a tomar o primeiro licor intoxicante. Dr. SH Kellogg dá uma tradição da Índia que ele acredita que não deve nada a empréstimos de missionários cristãos. Sua conta é a seguinte:

      "Os Santals têm uma tradição...que no começo eles não eram adoradores de demônios como são agora. Eles dizem que, há muito tempo, seus primeiros pais foram criados pelo Deus Vivo; e que eles o adoraram e serviram a princípio: e que eles foram seduzidos de sua lealdade por um espírito maligno, Masang Buru, que os persuadiu a beber um licor intoxicante do fruto de uma certa árvore." (Kellogg, SH, Genesis and the Growth of Religion, Londres, Macmillan, 1892, pp.60,61.)

      No geral, há uma certa concordância nesse testemunho tanto de fontes pagãs quanto judaicas. Em primeiro lugar, a queda do homem estava associada ao consumo de uma fruta. Esta ação trouxe consigo um ganho e uma penalidade. Em alguns casos, o ganho é um tipo superior de sabedoria, sabedoria profética, e em outros, é "conhecer os deuses", o que quer que isso signifique. Por outro lado, a maioria das tradições o vê como um ato de desobediência que necessariamente envolvia também a pena de morte. O Rig Veda, no entanto, é uma exceção a esse respeito, embora a bebida fosse inebriante, também deveria ter garantido a imortalidade.

     Apesar desse tipo de contradição, temos a sensação de que existe uma ligação entre todos esses relatos e que eles testemunham o fato de que a raça humana é verdadeiramente una e teve um pai, Adão e uma mãe Eva, um conhecimento de quem cedo a história tornou-se assim propriedade comum de todos os seus descendentes, isto é, a humanidade. As inconsistências e contradições dessas tradições podem realmente fortalecer nossa confiança no relato original em Gênesis, da mesma forma que um certo tipo de contradição no testemunho de várias testemunhas de um crime pode fornecer a melhor prova de que eles não tomaram emprestada sua história uns aos outros, mas estão lembrando o evento original sem conluio entre si.

     Dois fatos parecem se destacar: o fruto de algum tipo de árvore estava envolvido e o extrato da fruta era um intoxicante, um veneno; se foi alguma forma de álcool ou não é um ponto discutível, mas não é uma suposição razoável.

    Esse post não é determinativo de qual fruto certamente possa ter sido aquele que Adão tomou, cabe a cada um fazer suas considerações, aqui apenas expomos as possibilidades que se aproximam do mais provável...